Voz da Sociedade
#vidasnegrasimportam
(autoria dos membros do Comitê de Psicanálise)*

Em virtude dos acontecimentos dos últimos tempos, o Comitê de Psicanálise da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul vem por meio deste posicionar-se a favor da luta das pessoas negras.
Entendendo a relevância desta, gostariamos de apontar para a necessidade de repensarmos o racismo na cultura vigente e as formas de reprodução do mesmo. Essa é uma pauta que não deve se resumir ao dia 02 de junho, dia em que fora levantada as máximas "blackouttuesday" e "black lives matter". Que possamos fazer destes marcos para revermos internar e externamente nosso papel enquanto sujeitos que reproduzem, silenciam ou mesmo compactuam com discursos racistas e ações segregadoras.
A luta da população negra é de longa data, porém acreditamos que a psicologia e a psicanálise, enquanto ciências e éticas que buscam compreender a subjetividade e o sofrimento humano, devam se colocar a disposição dos sujeitos e dos dispositivos da cultura para que possamos aprender e oferecer nossa escuta a favor da luta contra o racismo. Dessa forma, frente ao cenário político que vivemos, o Comitê se posiciona contra toda e qualquer forma de opressão bem como repudia quaisquer discursos e ações facistas. Vivemos tempos sombrios e sentimos a necessidade de trazer luz a tais temas a fim de atravessarmos este momento juntos.
Promover uma psicanálise que esteja implicada diretamente nas raízes do mal estar e nos sintomas da sociedade, não tem sido tarefa simples: diariamente estamos sendo convidados a repensar o princípio da angústia da comunidade em geral e sobretudo da população negra. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018), a população preta e parda, ultrapassa os 100 milhões de brasileiros, ou seja, mais de 55% da população, tem a pele pintada de “alvo”. Algo que, coisifica o corpo negro, desumaniza e ceifa o direito de ser humano. Direitos estes, de se constituir como sujeito e principalmente, direito a infância de muitas crianças negras e bebês negros, subjetivando-os desde de muito cedo, tal como, a biografia de Miguel Otávio Santana da Silva, de cinco anos, que chegou ao fim na última terça-feira (02), tão precocemente pelas mãos impiedosas do racismo.
Ao “invisível” que mata a cada 23 minutos um jovem negro no Brasil, dados oficiais, publicados no Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde (2019) e atualizados desde 1988, pelo trabalho do sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, no Mapa da Violência. Mais do que nunca, a psicanálise é convocada a tornar-se porta voz da coletividade e lançar-se, para um outro momento da trajetória da profissão, pautada no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade e da integralidade de todxs (Código de ética, 1971) e não somente, a serviço de um setor político e econômico, bem como, outrora no passado o fez.
#vidasnegrasimportam
*Texto escrito pelos membros do Comitê de Psicanálise:
Bruna Mello da Fonseca
Laura Gonçalves de Quadros
Jaqueline Batista da Silva
Jordan Nunes da Silva
Paula Pereira dos Santos
Dayane Silva Duarte